12 de setembro de 2008

A nata do mundo profissional.

Bom, ultimamente o blog tem ficado bastante impessoal, pelo menos para os meus padrões e isso acaba me incomodando um pouco, afinal de contas isso está agrandando muito a alguns leitores do blog, e como todos sabem, agradar demais seu público NUNCA é uma coisa boa, afinal de contas ele sempre fica esperando a mesma qualidade naquilo que você faz. Por isso é bom decepcionar seu público constantemente, de forma que ele sempre fique esperando o pior de você, então um dia você cria paciência pra caprichar e, tadã, eles te amam novamente.


E no intuito de escrever algo de ordem mais pessoal, resolvi detalhar minha atual labuta, afinal de contas, eu tenho que justificar para mim mesmo que valhe a pena continuar sendo um escravo branco nos tempos modernos.


Esta é uma representação de mim antes de um dia de trabalho.


Bom, eu já falei sobre o que eu venho fazendo, a alguns (muitos) posts atrás, porém, na época eu não fui detalhista o suficiente, até por que eu estava com a visão daquele que acaba de trabalhar pela primeira vez na vida: "Uia, vão ME PAGAR pra isso!" e isso impede um pouco o seu discernamento do que é pagamento e o que é esmola. De fato eu sou uma espécie de mendigo registrado no INSS, excetuando o fato, é claro, que eu não falo com hidrantes ,não durmo numa caixa de papelão, não cago na rua e... Bom eu não me pareço em nada com a porra dum mendigo, mas isso não diminui muito a minha frustração, então eu posso continuar reclamando.

Bom, o processo de fiscalização de prova é bastante simples, afinal você não precisa de muito treinamento para ficar em pé observando pessoas rabiscarem folhas de papel e, ocasionalmente, evitar que elas batam um papo à respeito da tal folha de papel, no meu caso, eu me apresentei à diretora do colégio, que rapidamente preencheu um papel onde atestava que eu possuía aval para ser um fiscal, me cadastrei no INSS (a parte mais "ai meu deus, não sou mais um cuzão" da coisa) e esperei para começar a ser chamado para pegar no batente, mal sabia eu que batente era um eufemismo para merda, e que a expressão significa quase que literalmente: "pegar em merda", mas divago. O lance é que algum tempo depois fui chamado, recebemos um pequeno treinamento palestral, onde fomos instruídos a encarar os alunos como crias diretas do próprio satanás, desconfiar de TODA E QUALQUER atitude que eles pudessem tomar e, é claro, mandá-los colocar os celulares em cima da mesa do professor, nunca, eu disse NUNCA, esqueça de manda-los colocar os celulares desligados em cima da sua mesa.

Depois disso é só relaxar e se divertir com as expressões de desespero daqueles alunos completamente enlouqecidos com a prova do dia. Tem gente que se descabela pedindo para as tais crias de satanás se sentarem e fazerem silêncio, eu particularmente nunca pedi para que algum aluno calasse sua respectiva boca, eu simplesmente fico olhando pros lados calado, externando o fato de eu não estar nem aí se eles estão perdendo tempo de suas provas e que isso poderia prejudicá-los. A bem da verdade eu falo o mínimo possível com qualquer aluno, isso mantém uma idéia de que eu sou um escroto filho da puta que odeia todo mundo, essa é idéia perfeita que um aluno deve fazer de você, pelo menos foi isso que a diretora do colégio disse.

Outro fator engraçado da fiscalização de provas é quando você vai fazê-lo para com alunos bem mais novos, tipo sexta e sétima série. Primeiro por que as provas são muito mais fáceis, e é divertido você ver que tiraria dez numa prova de matemática, mesmo sendo um jurista que sofre para fazer equações de primero grau. E segundo por que os aluno A-DO-RAM perguntar a mais variada classe de merdas para você, desde dúvidas sobre significado de palavras como "consolidar" ou "exceto" à belezas como "Cara URSS significa dólar né?" ou apontar para um texto que fala do Marrocos e mandar a pérola "Isso fica na Europa não é?". Nessa hora você segura o riso com TODA a sua força e solta um "A interpretação da prova faz parte da nota, por favor, preste atenção no texto." fingindo que não achou o moleque a coisa mais estúpida que Deus criou, porém neste momento, por dentro, você está praticamenete defecando por todos os orifícios de tanto rir. Pode não parecer, mas é altamente hilário.

Mas tudo bem, você vai lá, sacaneia com os alunos, fode com as provas deles, ri em silêncio do desespero deles e ainda procastina os pedidos de ida aos banheiros só por que não tem nada mais interessante pra fazer, e nisso se vão quatro malditas horas do seu dia. Pode parecer pouco, e na verdade é, só que quando você está numa sala completamente em slêncio onde você precisa ficar prestando atenção em sessenta ou setenta adolecentes a coisa se torna extremamente sacal. Então o dia acaba, e você é informado que sua remuneração será feira da seguinte maneira:

" Você só recebrá sua desejada grana após acumular cinco provas, cada prova lhe renderá dez pratas, mais uma coisa, NUNCA deixe de anotar os dias em que você fiscalizou uma prova, nós iremos fazer de tudo para provar que você nunca esteve aqui. "

E isso é uma regra absoluta. não sei se você somou, mas isso significa que eu estou recebendo dois e cinquenta por hora de trabalho, eu já até citei isso aqui no blog, mas isso é tão escroto que eu não consigo parar de me abismar com isso. Dois e cinquenta é menos do que um pedreiro recebe para trabalhar. Tudo bem que eu não estou no sol mexendo argamassa e tal, mas caralho, sou só eu que acho isso pouco demais até mesmo pruma atividade tão inútil quanto essa? Num concurso público, um fiscal ganha, no mínimo, cinco vezes mais, e olha que essa estatística não foi citada na base do achismo.

Beleza, então eu fui chamado a primeira vez, atingi o fatídico número de quatro provas, sim, afinal meus pais, sem querer, ao receberem uma chamada do colégio para que eu fosse fiscal pela quinta vez resolveram não me perguntar nada e simplesmente dizer "Ah não! Eu acho que nesse dia ele não vai poder aplicar prova.", nem eles se lembram o motivo pelo qual eu não poderia aplicar aquela maldita prova naquele maldito dia, mas o resultado foi que eu me fodi bonito. Voltei a ser chamado à executar o trampo para esta semana e, graças ao bom Deus, somei oito fiscalizações, nada de muito grande, mas antes oitenta pratas do que nada.

Ou talvez não.

Agora eu vou ter que me lembrar exatamente de que eram as provas que eu apliquei no primeiro semestre, sim, no primeiro semestre. caralho, eu mal me lembro do que eu comi ontem de tarde. Vou ter que recorrer a todo tipo de macumba e simpatia para recordar quais foram as malditas provas e em que ordem eu as apliquei, tudo isso pelo direito de RECEBER minhas oitenta pratas. Puta que pariu!

O lado bom da coisa é que eu aprendi a lidar com a frustração implacável que é a de ter um trabalho altamente mal remunerado, depois de ser fiscal de provas eu dificilmente reclamaria de ser limpador de pratos ou gari. Pelo menos essas profissões pagam mais por hora. E também foi bom para que eu realmente me empenhasse a estudar para os concursos de tribunal que irão abrir ano que vem. Se tudo correr do jeito esperado no final de dois mil e nove eu terei meu primeiro emprego real, e de quebra ele seria na área jurídica.

E olha só, um texto gay homossexual que fala quase que exclusivamente sobre a minha vida, quem não gostou aí? Fodam-se! LOL! Se bem que ele pode-lhe ser útil no caso de você estar tentando se tornar um profissional na arte de ficalização de provas, se essa for sua intenção, por favor invista em torniquetes escrotais, com certeza eles são menos agoniantes do que a relação custo/benifício de fiscalizar uma prova num colégio particular.

blog comments powered by Disqus